“Dentro da própria roupa as mãos fazem um intervalo entre o
tocar na amante e o segurar na lamina que mata. As mãos são órgãos susceptíveis
tácteis, mas também sentimentos mais complexos: como a grande tristeza. Supor
que há elementos do corpo que não sofrem nem se exaltam, que apenas assistem,
parece um equívoco evidente de uma certa anatomia analítica que vê cada bocado
de corpo como louco individual, com o seu mundo próprio. Não há nenhum órgão que
possas extrair do corpo, mantendo este vivo, de modo a que do organismo expulses
apenas as emoções. Só extrairás as emoções quando eliminares por completo o
organismo. A última célula que sobrevive ainda sente e provavelmente pensa.”
Trecho de “Um Homem: Klaus Klump”, de Gonçalo M. Tavares.
Fotos de Daniel Debortoli.
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